terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Autobiografia de Um Coração Suburbano

Se me perguntassem que tipo de coração tenho
Eu diria sem pensar: coração suburbano!

Perdoem-me o espanto
É assim que me sinto 

Meu coração vive lotado
Como os morros ocupados por toda essa gente
Que busca a cidade grande pra viver uma vida talvez mais digna

O coitado já apanhou mais do que Judas, de quando malhado nas ruas
Mas não importa, tornou-se forte feito rocha

Entretanto é maleável 
Mole mesmo
Feito coração de mãe, sabe

Não existe outra forma de percorrer os caminhos escusos e trilhas
Criados pra se descer do alto do que seria um esplendor
Até as areias douradas de copacabana

Lá de cima, do mais alto
De onde o Cristo é visto
Mas de costas pra toda essa gente necessitada

Coração suburbano, periférico 
Sem medo e lotado

Lotado de toda essa gente artista
Destes que não estudam a engenharia mas erguem arranha-céus de madeira

Dos poliglotas
Que mal aprendem o português 
Mas compreendem o dialeto das ruas, morô!

Meu coração aprendeu a ginga
A dança proibida dos negros que hoje virou arte

Meu coração tem todas as cores
Sem preconceitos, sem fronteiras
O danado só pensa em amar

Coração poeta
Bate em ritmo musicado
Feito pagode na casa do Gago

Dizem que coração de vagabundo bate na sola do pé 
O meu não

O meu é coração poeta
Vive de rimas e prosas
Simétrico e musicado

Por vezes,
Se torna explosão na caixa torácica 
Mas de forma requintada

As vezes traz a boca
Palavras tão sutis,
Que mal se imaginaria o poder que tem de tocar o âmago dos que o circundam

Coração suburbano, periférico, maloqueiro
Este é o meu coração