Se me perguntassem que tipo de coração tenho
Eu diria sem pensar: coração suburbano!
Perdoem-me o espanto
É assim que me sinto
Meu coração vive lotado
Como os morros ocupados por toda essa gente
Que busca a cidade grande pra viver uma vida talvez mais digna
O coitado já apanhou mais do que Judas, de quando malhado nas ruas
Mas não importa, tornou-se forte feito rocha
Entretanto é maleável
Mole mesmo
Feito coração de mãe, sabe
Não existe outra forma de percorrer os caminhos escusos e trilhas
Criados pra se descer do alto do que seria um esplendor
Até as areias douradas de copacabana
Lá de cima, do mais alto
De onde o Cristo é visto
Mas de costas pra toda essa gente necessitada
Coração suburbano, periférico
Sem medo e lotado
Lotado de toda essa gente artista
Destes que não estudam a engenharia mas erguem arranha-céus de madeira
Dos poliglotas
Que mal aprendem o português
Mas compreendem o dialeto das ruas, morô!
Meu coração aprendeu a ginga
A dança proibida dos negros que hoje virou arte
Meu coração tem todas as cores
Sem preconceitos, sem fronteiras
O danado só pensa em amar
Coração poeta
Bate em ritmo musicado
Feito pagode na casa do Gago
Dizem que coração de vagabundo bate na sola do pé
O meu não
O meu é coração poeta
Vive de rimas e prosas
Simétrico e musicado
Por vezes,
Se torna explosão na caixa torácica
Mas de forma requintada
As vezes traz a boca
Palavras tão sutis,
Que mal se imaginaria o poder que tem de tocar o âmago dos que o circundam
Coração suburbano, periférico, maloqueiro
Este é o meu coração